Naturopatia

A tradição aliada à investigação científica. Uma abordagem holística sobre o indivíduo


O que é?

A premissa filosófica básica da medicina naturopática, é que existe um poder de cura inerente na natureza e em cada ser humano. O principal papel do Naturologista é "remover os bloqueios para a cura" e aumentar esse poder de cura inato nos seus pacientes.

  • Segundo a Portaria nº 207-A/2014, publicada em Diário da República, um ano depois desta prática ter sido reconhecida pelo Estado Português, a Naturopatia é uma: "terapêutica que estuda as propriedades e aplicações dos elementos naturais, a fim de prevenir a doença e manter, promover e restaurar a saúde, recorrendo ainda ao aconselhamento dietético naturopático e à orientação sobre estilos de vida e utilizando a fitoterapia, a homeopatia, a hidroterapia, a geoterapia, as terapias da manipulação e outros métodos afins."
  • A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica a Naturopatia como a 3ª Medicina Tradicional em todo o mundo, após a Medicina Ayurvédica (Medicina Tradicional Indiana) e a Medicina Tradicional Chinesa.
  • A OMS reconhece a Naturopatia como uma terapia complementar à Medicina Ocidental.

A naturopatia, como termo geralmente utilizado, começou com os ensinamentos e conceitos de Benedict Lust. Em 1892, com 23 anos, Lust veio da Alemanha como discípulo do Padre Sebastian Kneipp (o maior praticante de hidroterapia) para trazer as práticas de hidroterapia de Kneipp para a América. A exposição nos Estados Unidos a uma vasta gama de praticantes e práticas de artes de cura natural ampliou a perspetiva de Lust e, após uma década de estudo, em 1902 comprou o termo naturopatia de Scheel, da cidade de Nova Iorque (que cunhou o termo em 1895) para descrever a compilação eclética de doutrinas de cura natural que imaginou que seriam o futuro da medicina natural. A naturopatia, ou "cura pela natureza", foi definida por Lust como um modo de vida e um conceito de cura que utilizava vários meios naturais (selecionados de vários sistemas e disciplinas) para tratar as enfermidades e os estados de doença humanos.

Foi somente com Benedict Lust que os muitos fios foram entrelaçados em uma prática profissional unificada, o que torna a medicina naturopática o primeiro sistema ocidental de medicina natural integrativa de espetro completo com base na vis medicatrix naturae. Organizada em torno desse princípio da capacidade humana de cura, a medicina naturopática conseguiu integrar discriminadamente diversos sistemas e modalidades terapêuticas em uma estrutura coesa, reconhecendo o modelo biomédico de saúde e doença, mas também apoiando a pessoa como inteira, incluindo os aspetos psicológicos, sociais e espirituais do bem-estar. Ela promoveu consistentemente um relacionamento centrado no paciente, bem como a colaboração com outros profissionais e disciplinas de saúde, e hoje está posicionada como um modelo para a medicina integrativa.

O relatório da Federação Mundial de Naturopatia sobre os Princípios dos Naturopatas resumiu os dados do inquérito em 42 países, com a seguinte declaração:

"Em 1986, a Associação Americana de Médicos Naturopatas (AANP) formou um comité composto pelos médicos naturopatas Pamela Snider, Jared Zeff e outros. A descrição dos seis princípios naturopáticos foi formalmente codificada e aceite pelas duas associações naturopáticas nacionais norte-americanas (Associação Americana de Médicos Naturopatas (AANP) e a Associação Canadiana de Médicos Naturopatas (CAND). Estes princípios codificados em 1989 são muito consistentes em todos os países que praticam a naturopatia.

Princípios

Primeiro não causar danos (Primum Non Nocere) Os naturopatas seguem três preceitos para evitar prejudicar o paciente: utilizam métodos e substâncias medicinais que minimizam o risco de efeitos nocivos e aplicam a menor força possível ou intervenção necessária para diagnosticar doenças e restaurar a saúde. Sempre que possível, evita-se a supressão dos sintomas, uma vez que a supressão interfere, geralmente, no processo de cura. Os naturopatas respeitam e trabalham com a vis medicatrix naturae no diagnóstico, tratamento e aconselhamento, pois se este processo de autocura não for respeitado o paciente pode ser prejudicado.

O Poder de Cura da Natureza (Vis Medicatrix Naturae): O poder de cura da natureza é o processo inerente de auto-organização e cura dos sistemas vivos que estabelece, mantém e restaura a saúde. A medicina natural reconhece que este processo de cura é ordenado e inteligente. É papel do naturopata apoiar, facilitar e aumentar este processo, identificando e removendo os obstáculos à saúde e à recuperação, e apoiando a criação de um ambiente interno e externo saudável.

Identificar e trate as causas (Tolle Causam): A doença não ocorre sem causa. As causas podem ter origem em muitas áreas. As causas subjacentes de doenças e enfermidades devem ser identificadas e removidas antes que a recuperação completa possa ocorrer. Os sintomas podem ser expressões da tentativa do organismo de se defender, de se adaptar e recuperar, de se curar, ou podem ser resultados das causas da doença. O naturopata procura tratar as causas das doenças, em vez de apenas eliminar ou suprimir os sintomas.

Tratar a pessoa como um todo (Tolle Totum): A saúde e a doença resultam de um complexo de fatores físicos, mentais, emocionais, genéticos, ambientais, sociais e outros. Uma vez que a saúde total inclui também a saúde espiritual, os naturopatas encorajam os indivíduos a prosseguir o seu desenvolvimento espiritual pessoal. É reconhecido o funcionamento harmonioso de todos os aspetos do indivíduo como sendo essencial para a saúde. A natureza multifatorial da saúde e da doença requer uma abordagem personalizada e abrangente ao diagnóstico e tratamento. Os naturopatas tratam a pessoa como um todo, tendo em conta todos estes fatores.

O "médico" como professor (Docere): O significado original da palavra "médico" é professor. O principal objetivo da medicina naturopática é educar o paciente e enfatizar a autorresponsabilidade pela saúde. Os naturopatas também reconhecem e empregam o potencial terapêutico da relação profissional-doente.

Prevenção (Preventare) da doença e promoção do bem-estar. A prevenção de doenças e a obtenção de uma saúde ótima nos doentes são os principais objetivos da medicina naturopática. Na prática, estes objetivos são alcançados através da educação e da promoção de modos de vida saudáveis. Os naturopatas avaliam os fatores de risco, a hereditariedade e a suscetibilidade às doenças e fazem intervenções adequadas em parceria com os seus pacientes para prevenir doenças. Não se pode ser saudável num ambiente pouco saudável.

Estes princípios traduzem-se nas seguintes perguntas que o profissional aplica ao analisar um caso:

• Qual é a primeira causa? Atualmente o que está a contribuir para esta situação?

• Como o corpo se está a tentar curar?

• Qual é o nível mínimo de intervenção necessário para facilitar o processo de autocura?

• Quais são as fraquezas funcionais subjacentes do paciente?

• Que educação o paciente precisa para entender por que está doente e como se tornar mais saudável?

• Como a doença física do paciente se relaciona com sua saúde psicológica e espiritual?

Naturismo Naturopata ou Naturopatiaé o sistema naturopata fundado por Hipócrates, que como vimos, supõe a existência de uma força (natura conservatrix y medicatrix) da qual depende a tendência do organismo a conservar a saúde e a recuperá-la quando a tiver perdido.

Em Naturopatia não se combatem doenças nem sintomas, toda a ação naturopática concretiza-se em ajudar todos os aspetos naturais do corpo, sendo este o único procedimento lógico e racional de devolver ao organismo a sua normalidade funcional, cujo resultado imediato é o estado de saúde.

Bases da terapêutica naturopática

A terapêutica naturopática é assim a arte de estimular as forças vitais e canalizar as forças curativas do organismo de um modo fisiológico e com fins curativos. Ao falarmos em natureza fica implícito o reconhecimento da vis medicatrix ou força medicatrix, terapêutica sobre a qual se apoiou Hipócrates:

"Não é o naturopata nem a sua medicina que curam as doenças, mas sim a natureza lutando contra as causas mórbidas; se bem que o naturopata pode ajudá-la a reprimir a força dos males que a oprimem".

A terapêutica naturopática deve por isso, respeitar, ajudar, canalizar e às vezes provocar o esforço do organismo. Respeitar nas doenças agudas com bom desenvolvimento, ajudar nas doenças agudas pouco reativas, canalizar em todas e provocar nas doenças crónicas, que não tendem a curar-se, baseando-se na agudização (crisis), realizada por estímulos de uma bem orientada manobra terapêutica.Estes preceitos, aliados à compreensão do processo de cura, resultam numa hierarquia terapêutica. Esta hierarquia (ou ordem terapêutica) é uma consequência natural da forma como o organismo se cura.

As modalidades terapêuticas são aplicadas numa ordem racional, determinada pela natureza do processo de cura. A ordem natural da intervenção terapêutica adequada é a seguinte:

1º Restabelecer as bases para a saúde.

2º Estimular a vis medicatrix naturae.

3º Tonificar e nutrir sistemas enfraquecidos.

4º Corrigir deficiências na integridade estrutural.

5º Prescrever substâncias e modalidades específicas para condições e vias bioquímicas específicas (por exemplo, produtos botânicos, nutrientes, acupuntura, homeopatia, hidroterapia, aconselhamento).

6º Prescrever substâncias farmacêuticas.

7º Utilize radiação, quimioterapia e cirurgia.

Esta ordem terapêutica apropriada procede da menor para a maior força, caindo os últimos 2 pontos na esfera da medicina convencional. Todas as modalidades podem ser encontradas em diversas etapas, dependendo da sua aplicação. O aspeto espiritual da saúde do doente é considerado começando pelo passo 1.

Atualmente em Portugal os naturopatas usam como modalidades terapêuticas a nutriterapia, fitoterapia, medicina ortomolecular, homeopatia, manipulação de tecidos moles, hidro e geoterapia entre outros, respeitando sempre os princípios visitados anteriormente, de respeito à fomentação da força de cura natural.

Influências Recentes

Uma tremenda quantidade de pesquisas fornecendo suporte científico para os princípios da medicina naturopática foram conduzidas em centros de pesquisa tradicionais e cada vez mais em escolas médicas naturopáticas. Na verdade, a alopatia está-se a voltar cada vez mais para o uso de métodos naturopáticos na busca por prescrições eficazes para doenças que são atualmente por eles consideradas intratáveis ​​e/ou caras de tratar.

Está agora bem estabelecido que os fatores nutricionais são de grande importância na patogênese da aterosclerose e do cancro, as duas principais causas de morte nos países ocidentais, e estudos validando sua importância na patogênese de muitas outras doenças continuam a ser publicados. Muitas das pesquisas que agora documentam os fundamentos científicos das práticas e princípios da medicina naturopática podem ser encontradas em A Textbook of Natural Medicine (Pizzorno et al, 1985-1995).

A naturopatia mostra-se como um sistema próprio e eficaz cada vez mais procurada pelos pacientes que percebem hoje que a saúde depende de vários fatores interligados e que não basta suprimir sintomas para ter saúde. Existe uma maior procura de bem-estar e não apenas ausência de doença diagnosticada.

Referências:

https://www.researchgate.net/profile/Gaurav-Kohli-3/publication/342643163_Understanding_of_Naturopathy/links/5efe1e11299bf18816faf79e/Understanding-of-Naturopathy.pdf

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7219457/

https://fnminstitute.org/wp-content/uploads/2019/08/Ch-21-Naturopathic-Medicine-in-Fundamentals-of-Complementary-and-Alternative-Medicine.pdf

https://www.cemint.pt/content/naturopatia